.onHabitar

Habitar com propósito

O que é a série .onHabitar?
onHabitar investiga como o espaço interfere — e interage — com o cotidiano.
É uma leitura sensível da arquitetura através da luz, do vazio e da matéria.
Observamos o viver das pessoas: suas rotinas, gestos e pausas.
A partir disso, revelamos projetos que acolhem o corpo, respeitam o tempo
e silenciosamente se integram à vida.


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Casa Sumu

Uma microhouse japonesa de 6x30m onde o concreto revela a luz e o vazio amplia o tempo. Cada ambiente é um gesto de cuidado: arquitetura que observa o cotidiano, acolhe o corpo e respira com a cidade.

Com colaboração de Yuna Saito, arquiteta nipo-holandesa, o projeto une rigor conceitual e sensibilidade cotidiana.

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O que esconde o concreto?

Uma face cega, monolítica e silenciosa. A fachada da Casa Sumu surge como um volume puro de concreto aparente, fundido com precisão e sem ornamentos — quase como um gesto de recuo, um convite ao mistério. A porta, única abertura visível, é recuada, sutilmente marcada pela sombra que se projeta sobre o concreto, reforçando a profundidade e o desenho da entrada.

Como nas obras de Tadao Ando, essa frente opaca não é um muro de negação, mas uma promessa de interioridade: lá dentro, a luz será protagonista. Implantada no limite do lote, em uma rua estreita de Tóquio, a casa oculta sua complexidade para preservar o essencial. A ausência de janelas frontais revela uma arquitetura de introspecção — e uma confiança absoluta na luz que virá de dentro..


Chegar é um gesto silencioso.

O limiar entre rua e refúgio se dissolve em poucos metros — mas com potência simbólica. O mini-hall da Casa Sumu traduz o essencial da arquitetura japonesa contemporânea: contenção, precisão e pausa. A porta em vidro fosco e moldura cinza permite uma transição delicada entre a intensidade da rua e a calma do interior.

Um banco de madeira clara, com formas puras, convida ao ritual cotidiano de retirar os sapatos. Os casacos de linho pendem suavemente, como se flutuassem no silêncio. Essa cena — simples e contemplativa — poderia ter sido moldada por FORM/Kouichi Kimura, onde a entrada é menos passagem e mais preparação: um espaço para respirar antes de habitar.

A leveza do vazio

Neste lavabo, o vazio é matéria-prima. O espaço reduzido se expande na composição precisa: um espelho redondo com luz indireta revela profundidade, enquanto a janela estreita deixa entrar a luz natural com delicadeza. O volume da bancada flutua, como se tivesse sido esculpido no ar.

Tudo é mínimo, mas nada é frio. A paleta neutra — entre o off-white e a madeira clara — suaviza o concreto e acolhe o olhar. O vaso com um ramo seco evoca o wabi-sabi, a estética da imperfeição natural. Há aqui algo de Atelier Tekuto: a busca pela beleza nos interstícios, na sombra sutil, na luz filtrada com intenção.

O vazio como conforto.

A altura impressiona. O pé-direito generoso, marcado por paredes de concreto nu, desenha uma catedral doméstica onde o silêncio ganha forma. A grande abertura vertical emoldura o jardim vizinho com precisão — como um quadro de luz natural que muda ao longo do dia.

O mobiliário, de linhas retas e tons terrosos suaves, repousa sobre o piso claro em uma composição que respeita o respiro do espaço. O sofá é um convite ao repouso contemplativo, enquanto a iluminação pontual cria calor onde antes era apenas sombra. Aqui, Suppose Design Office parece ecoar: o uso radical da luz e da verticalidade para transformar a escala do cotidiano.

Onde a luz pousa, o tempo desacelera.

A claraboia abre o teto como uma fenda no concreto, permitindo que a luz caia com suavidade sobre a mesa de jantar. O desenho é preciso, mas nunca frio. A composição dos volumes — mesa, cadeiras e ilha da cozinha — revela equilíbrio entre massa e leveza, entre o feito à mão e o milimetricamente calculado.

O ambiente respira sofisticação serena. A cozinha, integrada ao fundo com armários em tom areia, é funcional sem ostentação. Há uma elegância silenciosa que remete aos projetos de FujiwaraMuro Architects — onde a luz é coreografada para marcar o tempo e revelar as texturas com delicadeza.


A luz também projeta silêncio.

Neste pátio estreito, o vazio é preenchido por luz. As paredes altas de concreto aparente canalizam o céu e moldam a sombra em diagonais precisas, desenhando o tempo sobre a arquitetura. Um único banco de pedra e uma planta nativa marcam a presença do humano e da natureza, mas com extrema contenção.

O chão de pedriscos brancos reflete suavemente a luz, ampliando a claridade. Não há distrações — apenas a contemplação da luz, do vento e da espera. Essa clareira arquitetônica remete diretamente à linguagem do Fuse-Atelier: espaços que não gritam, mas respiram. Um respiro no meio da densidade urbana


Suíte Casal

Dormir onde a luz repousa.

A luz entra como se tivesse sido esculpida. A verticalidade das janelas rasga a parede de concreto e projeta no interior um desenho em constante mutação. A cama flutua sobre o piso, sustentada por uma base leve em madeira clara — como se obedecesse à gravidade de outro modo.

O mobiliário é mínimo: uma poltrona, um abajur, um gesto. Tudo nesta suíte foi pensado para acolher o corpo e silenciar a mente. O pé-direito duplo reforça a sensação de liberdade, mas é a luz — sempre ela — que organiza o espaço e define o tempo. É aqui que a influência de Ikimono Architects se revela: volumes puros, escala precisa e luz como matéria.

Intimidade banhada de luz.

No banheiro da suíte, a claraboia é janela para o céu — e a luz que desce por ela transforma a rotina em contemplação. O concreto, a água, o vidro e o silêncio compõem uma atmosfera quase ritual. Cada elemento é reduzido ao essencial, mas tratado com sofisticação extrema.

A cuba moldada no próprio bloco, a ducha embutida, os metais em preto fosco: tudo revela um projeto de intenção. A toalha em tom terroso aquece a neutralidade do espaço com discrição. A influência de Yasuhiro Yamashita (Atelier Tekuto) é clara: arquitetura que traduz função em arte, e materialidade em experiência sensorial.

Quartos Filhos

Um lugar para crescer com luz.

O quarto do filho é um gesto de cuidado silencioso. A janela vertical leva o olhar ao horizonte verde, e a luz que entra suavemente se mistura à neutralidade do concreto e do mobiliário em tons naturais. A cama encaixada, o nicho com livros e a mesa de estudo em linha reta formam um microcosmo de concentração e respiro.

Nada é excessivo — tudo tem lugar. A verticalidade do espaço permite que o ambiente, mesmo compacto, nunca pareça limitado. É a arquitetura do afeto: silenciosa, funcional e sensível ao tempo do outro. Aqui, a influência de FujiewaraMuro pulsa com clareza — espaços que abrigam, crescem junto e não impõem, apenas acompanham.

Um abrigo suave para a infância.

A luz pousa como se soubesse o caminho. No quarto da filha, a claraboia traz o céu para dentro e faz do teto um portal de sonhos. O espaço é compacto, mas cheio de respiro: a cama baixa, os volumes arredondados, a madeira clara sob os pés — tudo pensado para o corpo pequeno, em crescimento.

Um brinquedo esquecido sobre o criado e a poltrona voltada para o corredor denunciam que este espaço está vivo. Em segundo plano, como num suspiro visual, a presença da menina em motion blur reforça a ideia de movimento e descoberta. Aqui, a arquitetura não controla a infância — ela a acolhe. Como nas casas de Tadao Ando, é o vazio que permite o florescer.


Habitar também é cuidar.

A garagem da Casa Sumu vai além da função. Ela é extensão do cotidiano, espaço de passagem e permanência. O clássico Porsche 911 branco repousa como uma escultura silenciosa, enquanto a bicicleta Maruishi e as roupas de linho penduradas contam histórias de uso real, de movimento.

A luz entra pelas fendas superiores e projeta diagonais exatas, marcando o tempo e revelando o ritmo da casa. A bancada com cestos, a planta no canto, o varal discreto — tudo comunica equilíbrio entre estética e vida. Neste ambiente, ecoam as lições da Fukawa House, da Suppose Design Office, onde o ordinário é elevado à categoria de poético.


in.arq.on apresenta: um gesto de síntese e luz.

Implantada em um terreno estreito de 6 metros de frente por 30 de profundidade, a Casa Sumu nasce como um exercício radical de síntese espacial e poética arquitetônica. Embora maior que os microterrenos típicos das kyosho jutaku em Tóquio (que muitas vezes não ultrapassam 4 metros de largura), a casa mantém a lógica dessas microresidências: fachadas cegas, aproveitamento vertical, interiores surpreendentemente iluminados e espaços otimizados ao limite.

Mais do que metragem, o projeto trabalha com tempo, silêncio e luz. Cada ambiente foi pensado como um capítulo visual que revela o potencial de viver bem mesmo nos interstícios urbanos — com foco no essencial e respeito absoluto à luz natural.

A Casa Sumu é resultado de uma curadoria estética que dialoga com grandes nomes da arquitetura japonesa contemporânea:

  • Tadao Ando: na pureza volumétrica da fachada e na presença do vazio como elemento compositivo;
  • Atelier Tekuto (Yasuhiro Yamashita): na leveza funcional dos banheiros e na força contida dos espaços pequenos;
  • Suppose Design Office (Makoto Tanijiri): no uso ousado da luz vertical e na domesticação de ambientes brutos;
  • FORM | Kouichi Kimura: na elegância da restrição e no equilíbrio entre luz e matéria;
  • FujiwaraMuro Architects: na sutileza dos ambientes infantis e nos gestos cotidianos traduzidos em arquitetura;
  • Fuse-Atelier: nos vazios externos, que se tornam respiros meditativos;
  • Ikimono Architects: na composição espacial sensível entre brutalismo, natureza e interioridade.

Participação especial

A pesquisa e o desenvolvimento da Casa Sumu contaram com a colaboração de Yuna Saito, arquiteta de origem japonesa, recém-formada como Mestre em Arquitetura pela Amsterdam University of the Arts – Academy of Architecture. Sua contribuição trouxe ao projeto um olhar jovem e internacional, combinando rigor conceitual europeu com raízes orientais. Yuna foi responsável por orientar o conceito da iluminação natural como eixo projetual e propor soluções de habitação urbana que equilibram tecnologia, afeto e ecologia.

Acima da cidade, o respiro.
No topo da Casa Sumu, o concreto encontra o céu. Um refúgio suspenso entre plantas, silêncio e luz natural. O estúdio envidraçado se abre para Tóquio, equilibrando trabalho e contemplação. Um gesto final de leveza, onde a arquitetura toca o horizonte.